Pagina Antenada

Minha consciência foi a sua eminencia de não querer, o que eu pretendia. No momento em que cheguei pra te mostrar o mundo, você se foi para o fundo, onde eu não mais te via. A foto amarelada, os bilhetes de cinema, poesias, tudo esquecido. Tudo deixado pra trás. Diga-me o que queria no momento daquele beijo? Jurei amar, proteger, doar... A janela luz em pó, esbranquiçava a mobilia, vitrola não tocava, nem tão pouco ouvia. Lembro do café preto tomado no botequim da esquina, onde usamos açúcar mascavo. Do seu sorriso encarnado, só me fazia lembrar, Frida Kahlo.Devolvo a ti as fotos raptadas da página antenada, onde eu te desejava, quando ainda imaginava o seu corpo liso.Trocamos cartas por email, beijos por beijos e caricias por... as caricias? Foram esquecidas, são supérfluas, descartáveis. Na manhã daquela tarde, meu coração ardia, na noite daquele dia, meus olhos buscavam, na volta da partida... você não estava. Minhas lágrimas secaram ao vento. Que soprou forte desfolhando toda a árvore. Queria segurar seu rosto e te falar com a voz roca coisas obscenas, tirar sua roupa e tomar sua boca.Louco é o poder de gozar sem medo, sem pudor, sem limites. Louco é o meu olhar de tesão, meu verso narrando teus seios... Teus seios! Há teus seios!Redondos, macios, róseos, bicos que arrepiados em meus lábios, pediam beijos, que arrepiados em sua blusa, pediam toque. Louco é amar teus seios com fulgor, que levariam a morte. Morte? O que significa? Um dia em teu colo, um dia em tua partida, um dia em minha morte... Devolvo a ti, as fotos raptadas, da página antenada...

Richard Goulart e Léo Gama